quinta-feira, agosto 04, 2005

 
S�o Paulo, quarta-feira, 03 de agosto de 2005

Folha de S�o Paulo

"Queria que tivessem levado a gente junto"
DA REPORTAGEM LOCAL

"Eu t� revoltado", esbraveja I., 13. O garoto dormiu durante duas noites numa "casinha de bonecas" instalada no Tatuap�, no �ltimo domingo, pela Associa��o Casa da Crian�a de Nossa Senhora Aparecida para abrigar crian�as em situa��o de rua. O motivo da revolta dele? Sua "casinha" havia sido retirada do local ontem.
"A nossa casinha era "da hora". Quando chove, l� dentro n�o molha. Quando faz frio, l� dentro n�o venta. E ainda tem travesseiro e coberta pra gente dormir", explica. "Queria que tivessem levado a gente junto com a casinha", afirma L., 13, que dividia com I. uma das casinhas levadas ontem pelos funcion�rios da subprefeitura.
Os meninos, que se chamam de "parceiros", dizem morar na rua h� mais ou menos tr�s meses. "A gente dorme na pra�a S�lvio Romero. Mas tem muita gente de l� e do shopping Tatuap� que implica com a gente", conta I.
I. diz ter fugido de casa porque "apanhava muito" do pai. "Tem outras coisas muito tristes e ruins que aconteciam l� na minha casa, mas n�o quero falar disso. S� posso dizer que gosto mil vezes mais de ficar na rua do que na casa dos meus pais", afirma.
Seu "parceiro" L., que tamb�m diz ter 13 anos, conta que a m�e morreu e o pai est� preso. E afirma que o padrasto batia nele "de vara e de cinto at� [ele] n�o conseguir mais andar de tanta dor".
"Quando as "tias" [da Associa��o Casa da Crian�a de Nossa Senhora Aparecida] falaram que iam trazer uma casinha pra gente, achei que era mentira. Mas a�, uma semana depois, elas apareceram com duas casinhas bonitinhas", diz I., que descreve sua ex-morada como "uma linda casinha azul por fora e branca por dentro". "Mas tudo que � bom dura pouco e tudo que � ruim permanece. A vida j� me ensinou isso. E, agora, sem a casinha, vai ser um terror de novo."
Tanto I. como L. dizem j� ter freq�entado a escola, mas mal passam pelo teste da escrita do pr�prio nome. Ainda assim, mant�m a esperan�a de um futuro longe das ruas e dos furtos em supermercados que admitem cometer. L. quer "fundar uma escola, ter uma casa e uma bicicleta". I. sonha em integrar a For�a A�rea Brasileira -para "defender o meu pa�s dos inimigos", diz ele.
Outro menino G., tamb�m de 13, dividia o equipamento com os outros dois garotos, mas n�o estava no local ontem. Ele, ao contr�rio dos dois amigos, tem fam�lia. Diz pedir esmola nos dias �teis e vai para casa aos fins de semana.
I. e L. afirmaram ontem que n�o aceitam ir para abrigos porque l� se sentem "presos".
Ontem os dois se ocupavam em descobrir onde passar�o a pr�xima noite. "N�o tem quem possa ficar com a gente. Acho que vamos dormir de novo na rua mesmo, no frio. Sem a casinha de antes, n�o vai ter outro jeito."
(FERNANDA MENA)

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